16 de abril de 2011

Autora: Luana Meireles

Minha história com a dança começou bem cedo. Sempre admirei muito quem sabia dançar. Quando criança queria ser paquita, como 90% das meninas da minha geração, e vivia inventando ou imitando coreografias. Reunia minhas colegas de bairro e passávamos as tardes ensaiando alguma coreografia para apresentar no final do ano ou nas festividades da vizinhança. Até roupa mandávamos fazer, visto que a mãe da minha melhor amiga era costureira.
Então comecei a fazer ballet ainda criança, mas quando entrei na adolescência a disciplina do ballet já não me agradava mais. Mas nunca parei de dançar, fui fazer jazz e a aeróbica da época. Era apaixonada pelos filmes que envolviam dança, principalmente o Flashdance, que marcou minha adolecência.
Fui mãe muito cedo e a responsabilidade da maternidade, do casamento e da universidade me deixou temporariamente afastada da minha paixão pela dança. Não sabia eu que essa maternidade me reaproximaria da dança.
Assim como eu, minha primeira filha Marina começou a fazer ballet ainda criança e mais tarde dança do ventre. Como mãe de bailarina, a acompanhava nas aulas de ballet e de dança do ventre. Só em estar de volta aquele ambiente com cheiro de arte já me deixava muito satisfeita.
Depois de ser mãe pela segunda vez - de Tainá,  decidi acompanhar Marina nas aulas de dança do ventre. Logo em seguida foi a vez de Tainá também começar a fazer ballet. Neste momento, era mãe de duas bailarinas e estava descobrindo minha paixão pela dança do ventre.

Há pouco tempo atrás, decidi voltar ao ballet numa turma de adultos. Foi uma época maravilhosa, éramos eu e minhas filhas no ballet. Tive a oportunidade de descobrir que a idade não nos impede de fazer nada e que ainda tinha alguma flexibilidade. Neste ano subimos ao palco juntas, mãe e filhas, no espetáculo Coppélia, do Stúdio de Dança Fernanda Barreto. No entanto senti falta de admirá-las da platéia. Por este (e outros) motivos desci do palco do ballet e voltei a ficar na platéia para poder admirá-las melhor. Mas continuei nos palcos da dança do ventre, onde estou até hoje, há 8 anos.
Ser dançarina do ventre e mãe de bailarinas sempre foi uma grande felicidade pra mim. E como mãe de bailarina, fui aprendendo cada vez mais o “dialeto” do ballet para poder me comunicar melhor com elas. Queria saber nomes de passos, de variações, de grandes bailarinos. Em seguida passamos a viajar com Marina e o Stúdio de Dança Fernanda Barreto para festivais de ballet. Foi quando Má começou a receber os primeiros elogios que indicavam que ela teria futuro no ballet - “pernas lindas”. Em um dos festivais ela foi pré-selecionada para uma audição no Bolshoi do Brasil e em seguida realmente  selecionada para fazer parte do Bolshoi.

Estávamos vivendo um divisor de águas nas nossas vidas. Foram momentos de extrema felicidade, mas também de muita dor com o processo de separação. Minha paixão pela arte da dança, projetada nas minhas filhas, estava tirando de perto de mim um dos meus maiores tesouros - minha companheira, minha filha. Marina estava indo para o Bolshoi do Brasil, seguir seus próprios passos, e eu não poderia mais acompanhá-la em aulas, em apresentações, em ensaios, enfim, estava perdendo uma parte do que dava sentido para a minha vida.
E é neste capítulo da minha vida, que também é minha história com a dança,  que me encontro hoje. Continuo dançando e amando a dança. E por outro lado ainda vivenciando o luto por minha filha ter saído de casa para mergulhar ainda mais fundo no mundo da arte da dança.

Luana Meireles (dançarina do ventre e mãe das bailarinas Marina e Tainá)

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