24 de abril de 2011

Autora: Mairan Agra

Não sei de quem é a autoria, mas concordo com a frase que diz, “música é vida, dançar é viver”, foi desta maneira que vim ao mundo, amando a arte da dança. Minha mãe conta que eu já dançava desde o ventre. O dom da dança está na família, mas pulou uma geração, meus pais não dançam absolutamente nada, na verdade (eles que não me ouçam kkk) pagam verdadeiros micos, aprendi a dançar com meus avós maternos, dois verdadeiros pés de valsa. Amava vê-los dançando um bolero, um tango, um forró, ou até mesmo quando minha avó, durante os afazeres domésticos começava a dançar com o pano de prato.
Fui crescendo vendo aquilo, mas nada me encantou mais do que a primeira apresentação de ballet que assisti, com apenas três anos de idade, pasmem ainda lembro o quanto fiquei maravilhada, logo soube que era ali que eu gostaria de está.
Insisti muito e no ano seguinte minha mãe me matriculou neste mesmo ballet. Iniciei no baby classic e fui uma aluna muito aplicada e disciplinada, mas muito “encabula” (como dizem aqui no nordeste). O meu primeiro festival foi sobre o circo, minha professora me escolheu para ser uma das bailarinas do picadeiro, mas eu não aceitei porque ficava em destaque no palco (bobinha eu né!), preferi ser um palhaço.
Os anos foram passando e eu fui me apaixonando cada vez mais pelo ballet clássico. Apesar da minha timidez nunca ter saído de mim, era nas aulas de ballet onde eu me sentia mais feliz do que em qualquer outro lugar em que pudesse estar. Muitas apresentações vieram, o sonho de usar a tão falada sapatilha de ponta também, vários papeis, muitos ensaios e superações. Aos meus ouvidos nada soava melhor do que aqueles três sinais sonoros para avisar que o espetáculo já vai começar. O friozinho na barriga, o medo de errar, a concentração, as luzes, a música, dança que invade o corpo e alma e por fim os aplausos, a recompensa de toda bailarina.
Fui crescendo e a vida chamou minha atenção para outras coisas, mesmo assim ainda sonhava em fazer o curso superior em dança, mas a cidade mais próxima na época era Salvador. Quis o destino que aos 17 anos eu engravidasse e este foi um grande divisor de águas em minha vida. No meu ultimo espetáculo eu estava grávida de três meses da minha pequena Loly (Lorrane), um presentinho de Deus que superaria todas as outras paixões, incluindo o ballet. Não sabia eu, mas Deus estava me dando ali uma pequena bailarina, que apesar de ter tido certa resistência no inicio, nasceu para brilhar nas pontas dos pés.
Depois do nascimento dela não voltei mais para o ballet, fui tentar outros ritmos. Participei por algum tempo de um grupo folclórico, fiz dança de salão, aeróbia, cheguei até a dar aulas de dança em uma cidade do interior, mas nada me agradou muito.
Sempre incentivei a dança na vida da minha filha, mas ela tinha um mix de ciúmes e adoração. Gostava de dançar, tinha uma flexibilidade incrível, mas morria de ciúmes quando me via dançando. Tentei coloca-la no ballet ainda muito pequena, mas na época minha antiga professora só estava aceitando crianças a partir dos oito anos de idade, fui ensinando o que eu sabia em casa, mas ela não tinha muita paciência, afinal de contas santo de casa não obra milagres né! Quando ela completou a idade insisti para que fizesse o teste, mesmo não gostando muito ela foi para me agradar. Eu nunca fiquei tão nervosa, era um teste bobo, mas parecia que era comigo. Quando acabou e recebemos o resultado, minha antiga professora falou, “não sei por que você ficou tão nervosa, ela puxou a mãe, nasceu para ser bailarina”. Acho que aquele foi um dos melhores elogios que a mãe coruja aqui já recebeu :D.
Mas minha professora estava enganada, com o passar dos anos o bichinho do ballet mordeu minha pequena e ela se apaixonou definitivamente pela arte da dança, e superou e muito a bailarina que eu fui um dia. Alguns anos mais tarde, voltei a fazer aulas de ballet, mas percebi que já não era mais o meu espaço. Chegamos até a fazer aulas juntas, mas ela não ficava muito confortável, então resolvi sair.
Desci dos palcos, para ocupar o lugar na primeira fila da platéia. Aceito, com muito orgulho, o título de mãe coruja, pois sei que deixei em meu lugar uma pequena bailarina que ainda tem um belo futuro para trilhar pela frente.

Mairan Agra

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